Mapas apontam transformações na realidade da Amazônia Legal

Nas últimas décadas, a região da Amazônia vem sofrendo um intenso processo de transformação em seus diversos aspectos. A agropecuária avança ano a ano floresta adentro, junto com a mineração. As inúmeras atividades econômicas em expansão não param de atrair migrantes e projetos de infra-estrutura. A disputa pela terra é inevitável. A participação da região nas estatísticas demográficas e nos números do PIB tem sido crescente nos últimos anos.
Diante de um cenário complexo, o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançaram na última semana (25) dez mapas temáticos sobre as condições de vida humana e a situação ambiental na Amazônia. Pela primeira vez, foi possível identificar a distribuição espacial em conjunto das várias atividades humanas que têm impacto sobre o meio ambiente. Até então, os dados eram apresentados de forma isolada.
De acordo com Adma Hamam de Figueiredo, geógrafa e coordenadora do projeto do IBGE, as três atividades de maior impacto na Amazônia são a extração de madeira, a pecuária e as grandes lavouras de soja, milho e algodão. “Num mesmo mapa foi possível demonstrar de forma seqüencial as três atividades”, explica Adma.

Devastação vegetal

Os estudos também apontam a mineração e as obras de infra-estrutura, como intervenções significativas no bioma amazônico. A rede urbana da Amazônia Legal está estruturada em quatro sistemas – Manaus, Belém, São Luís e Cuiabá – e nas aglomerações urbanas de Goiânia, Brasília, Teresina e Timon (MA). Há muito tempo a região deixou de ser uma vastidão de floresta tropical: há uma intensa circulação de bens e pessoas graças à existência de rodovias, ferrovias e hidrovias. Energia elétrica, portos para a produção agropecuária e sistemas urbanos ativam a ocupação territorial as atividades econômicas e, conseqüentemente, a devastação da vegetação. Em termos absolutos, a maior área de vegetação devastada está no Pará, devido à presença de rodovias federais como a Transamazônica e a BR-163.
“Os mapas têm importância estratégica porque fornecem uma visão macro-regional da região. Ao mesmo tempo, eles dão dados detalhados de porções pequenas de territórios até mesmo de limites intramunicipais”, avalia Adma. Para ela, os mapas permitem uma leitura complexa do território, a qual se aproxima bastante da realidade da Amazônia.
A partir dessas informações, os mapas serão utilizados como instrumentos estratégicos para projetos na região. De acordo com a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, os mapas servirão como base para o processo de planejamento de políticas pública na Amazônica. “Eles terão influência no desenvolvimento sustentável da região”, disse a ministra. Ela afirma que o Ministério tem se esforçado para que a questão ambiental seja levada em conta nos projetos de desenvolvimento do país.

Quatro anos de trabalho

Os mapas levaram cerca de quatro anos para serem concluídos e foram constituídos com base em informações do IBGE, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Os Estados e os municípios, bem como entidades da sociedade civil, como a Comissão Pastoral da Terra, também contribuíram com dados.
Para a geógrafa, é necessário destacar que há “várias amazônias”. Como exemplo, há diferenciações entre as porções ocidental e meridional da região. Enquanto a primeira permanece bastante preservada, a segunda é caracterizada pelo avanço da fronteira agropecuária. “Como sempre, o homem é o grande vetor de transformação do ambiente natural. É ele quem torna o espaço amazônico mais diferenciado”, considera Adma.

Migrações

A diversidade da Amazônia se dá também na sua população, que vem crescendo. Devido aos fluxos migratórios do sul, sudeste e nordeste brasileiros e a presença de populações nativas da região, a sociedade local é composta por uma grande diversidade cultura. Muitos municípios da Amazônia Legal têm mais de 50% de sua população constituída por pessoas não originárias da região.
Os mapas também abordam outros aspectos sociais, como as zonas em que há aumento populacional e onde há concentração dos conflitos pela terra, como, por exemplo, nas cidades paraenses de Anapu e Paraupebas e no eixo da Transamazônica. De acordo com o estudo, as disputas fundiárias são acentuadas pelo modelo de agropecuária imposto na região, caracterizado pela sua grande concentração de terras. Os mapas podem ser acessados no site do IBGE (www.ibge.gov.br)

Fonte: Agência Carta Maior (Natalia Suzuki)