Só na Suíça bancos ganham mais do que no Brasil

Os bancos brasileiros só perdem em rentabilidade – e por uma pequena diferença – para os suíços. São tão eficientes quanto os melhores do planeta, mas gastam muito para fazer frente ao calote. São conclusões de um estudo feito pelo consultor em assuntos bancários Carlos Coradi, que o Estado divulga com exclusividade.
Nas últimas duas semanas, os principais bancos privados do País divulgaram seus balanços com os resultados consolidados do primeiro semestre. Com exceção do Santander Banespa, todos os outros – Bradesco, Itaú e Unibanco – apuraram ganhos recordes.
O trabalho revela que as altas taxas de juros cobradas no Brasil são um fardo pesadíssimo para o devedor e acabam tendo impacto negativo sobre as operações das instituições financeiras. Isso, ressalte-se, num ambiente de crédito escasso.
A relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil está na casa de 32%. Para se ter uma idéia, no Chile esse indicador oscila ao redor de 60%. Nos Estados Unidos, está em 80%. Na União Européia, alcança 105%. Confira os pontos mais relevantes do estudo feito pelo professor Coradi.

EFICIÊNCIA – É medida pela divisão das despesas operacionais pelas receitas operacionais. O resultado indica quanto de suas receitas cada grupo de bancos é obrigado a gastar para cobrir seus custos operacionais. Nesse quesito, os bancos brasileiros atingiram eficiência comparável à dos grandes bancos internacionais.

CUSTO OPERACIONAL/ATIVOS – Por aí fica-se sabendo quanto os bancos precisam gastar em relação aos empréstimos que fazem a seus clientes para garantir suas operações. Os bancos brasileiros apresentam a pior posição. Coradi explica que por trás desse mau desempenho está o elevado nível de calote dos devedores, o que, por sua vez, decorre dos juros excessivamente altos. No cheque especial, os juros médios atingem 155% ao ano; no empréstimo pessoal, 93%; e no desconto de duplicatas, 55% ao ano. Esses dados (de junho) são da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

RENTABILIDADE – É tão alto o retorno dos bancos brasileiros que em apenas quatro anos os lucros dobram o patrimônio. Coradi observa que, entre os bancos daqui, Bradesco e Itaú têm apresentado rentabilidade superior à dos suíços. No Brasil, a rentabilidade é de 24,7% e na Suíça, de 26,9%.

PROVISÕES – São as reservas destinadas à cobertura da inadimplência dos clientes e estão divididas pelo patrimônio. Essas provisões são campeãs do mundo (16,9% contra média de 4,5%). De novo, isso ocorre porque os juros cobrados são o que são. Mas não é só isso. Há razões para acreditar que as provisões dos bancos brasileiros estejam inchadas porque eles escondem parte dos lucros. Foi o que analistas enxergaram no balanço do Itaú do primeiro semestre.

O relativamente baixo desempenho do setor no Brasil indica que falta escala nas operações.Coradi faz duas observações. Primeira, é inevitável o prosseguimento da concentração. Segunda, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e, talvez, Unibanco “terão de aumentar a atuação no exterior para ganhar escala e amplitude geográfica”.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo