Morte de servidor provoca reflexão sobre trabalho

O coordenador do SINTRAJUSC, Sérgio Murilo de Souza, esteve na terça-feira, 11, em Blumenau, acompanhado da psicóloga Gabriela Burin, para conversar com os colegas da subseção da Justiça Federal depois do falecimento, na segunda-feira, do servidor Carlos Henrique Lazzarin, ocorrido nas dependências da 1ª VF, onde ele trabalhava. Gabriela e a psicóloga Vera Regina Roesler foram novamente a Blumenau na quinta-feira, 13, quando também se reuniram com servidores.
Carlos atentou contra a própria vida, deixando consternados familiares, amigos e servidores. O corpo foi encontrado por colegas de trabalho dentro do banheiro da Vara e apresentava uma perfuração de faca no coração. Carlos tinha 47 anos, e os colegas mencionam o fato de que era esportista e gostava de corridas. Ele era natural de Marcelino Ramos (RS).
 
Adoecimento e afastamento
O quadro descrito nas duas visitas reforça a certeza de que o cotidiano nos tribunais tem levado colegas ao adoecimento e afastamento do trabalho, e que muitos ambientes, assim como servidores, estão doentes, levando a fortes sentimentos de opressão. Há relatos de excessiva cobrança de metas e, por parte das chefias, intolerância a erros.
Com base nas conversas com os colegas, Sérgio Murilo destaca que é muito preocupante o processo de adoecimento  físico e mental dos servidores do Judiciário Federal. “É cada dia mais frequente encontrar colegas se queixando de dores nos ombros, pulsos, braços, costas, com problemas de visão e que, em vez de pegar licenças médicas para se tratar de forma adequada, continuam trabalhando num ritmo intenso para poder dar conta das demandas do serviço e cumprir as metas”.  As lotações muito apertadas deixam para os colegas a sensação de que têm a obrigação de se segurar o quanto der no serviço para não desfalcar as equipes de trabalho.
As demandas cada vez maiores também estão levando vários colegas a trabalhar de forma rotineira antes e depois do expediente normal, o que causa mais cansaço e estresse. Isso ajuda a criar um ambiente cada vez mais individualista, com pouco tempo para a socialização entre os colegas de um mesmo setor ou unidade.  “O assédio com as funções, dentro de um contexto de salário arrochado, também exerce uma forte pressão para que o servidor e a servidora se sujeitem a qualquer situação”, acrescenta Sérgio.
 
Condições de trabalho
As instalações de várias varas também conspiram contra a saúde dos servidores. Como exemplo podemos citar  as condições de uma das Varas Federais de Blumenau, com armários abarrotados de processos por todo o lado, inclusive na frente de janelas, sem um espaço adequado para se fazer um lanche.
É importante lembrar que neste ano, em São Paulo, ocorreram três mortes trágicas de servidores da Justiça do Trabalho, duas delas no local de trabalho. A Justiça Federal no Estado também registrou no ano duas tentativas de suicídio, segundo o Sintrajud-SP.
As psicólogas Vera e Gabriela, na visita a Blumenau, falaram sobre a necessidade de se criar espaços de reflexão sobre o trabalho, permitindo que se reforcem os laços de solidariedade e compartilhamento entre os servidores. “São importantes também os gestos de reconhecimento por parte das chefias, bem como a manutenção ou criação de  espaços para comemorações e trocas de experiências durante o horário de trabalho, diz Vera.
O Sindicato irá solicitar audiência com a Direção da Seção Judiciária para conversar sobre os problemas apontados pelos servidores e definir estratégias conjuntas para melhorar as condições de trabalho. 
A solicitação também será feita no TRE e TRT, e será entregue um abaixo-assinado à Administração do TRT para enfatizar posição contrária à precarização das condições de trabalho na Justiça Trabalhista de Santa Catarina, bem como das condições de segurança na execução do trabalho dos oficiais de justiça. Também será solicitado estudo sobre as lotações no Tribunal, dimensionando o déficit existente hoje.