DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Mobilização denuncia racismo na mídia

Na terça-feira (20/11), foram realizadas em quase todas as grandes cidades do país manifestações vinculadas ao Dia da Consciência Negra, data que marca a luta e resistência da população negra no Brasil. Na ocasião, membros de diversos movimentos lembraram o papel da mídia no reconhecimento da cultura e das lutas dos negros no país.

Segundo o IBGE, aproximadamente metade da população brasileira é negra, mas a invisibilidade da população afrodescendente ainda é a regra nos meios de comunicação. Por isso, líderes do movimento reivindicam o fim da disseminação do racismo na mídia e o acesso dos negros e negras à produção e difusão de informação.

“A mídia ainda trata o negro no sistema escravocrata”, avalia Mariângela Frasão, do Fórum de Mulheres Negras do Estado de São Paulo. “O negro permanece sendo associado a uma imagem de subserviência, a uma imagem do negro com uma atitude menor, do negro que não pensa, do negro que não tem ideologia”.

Estatuto da Igualdade Racial

Mara Cardoso de Lima, do movimento Hip Hop, identifica nos últimos anos uma tentativa de inserção dos negros na mídia, principalmente nos meios televisivos, mas afirma que “os personagens negros cumprem um papel de mostrar que é possível vencer na vida, ainda que a imensa maioria continue na miséria e com condições de trabalho precárias”.

“Os grandes jornais não têm mostrado de forma democrática os problemas e a luta do povo negro no Brasil”, aponta Julião Vieira, da União de Negros pela Igualdade (Unegro). Ele cita, por exemplo, a ausência de matérias que retratem as dificuldades da juventude negra, a grande vítima de assassinatos. Vieira também aponta outra face da exclusão: “O movimento tem profissionais formados que poderiam pautar estas questões, mas estes não conseguem ingressar na grande imprensa.” Pesquisas recentes confirmam: nas televisões, apenas 5,5% de apresentadores e profissionais que aparecem no vídeo são negros.

Éber Fagundes, coordenador da sede nacional do Educafro, compreende como central a ausência de negros e negras como protagonistas na cultura e na produção jornalística. Segundo ele, a posição do movimento é de que para se avançar na representação do negro na mídia é necessária a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, reivindicação histórica do movimento negro e uma das principais pautas da 4ª Marcha da Consciência Negra, que ocorreu neste dia 20 de novembro em diversas cidades brasileiras. “Com a aprovação do Estatuto, nós teremos um percentual representativo de negros no mercado de trabalho e, conseqüentemente, aumentaremos sua representação na mídia.”

Distribuição democrática de concessões

Além da representação nos meios de comunicação já estabelecidos, os movimentos identificam cada vez mais a necessidade de se inserirem na luta pela democratização da comunicação. Segundo Vieira, no último Congresso da Unegro o tema foi discutido com mais de cinco mil militantes. A partir de agora, o movimento pretende se aliar aos demais movimentos sociais para acompanhar e participar de forma ativa da Conferência Nacional de Comunicações, de modo a torná-la mais democrática.

Mariângela, que também faz parte da Coordenação Nacional de Entidades Negras, destaca ainda outras iniciativas, como a elaboração de denúncias e documentos sobre violações dos direitos dos negros. “A mídia tem uma ideologia branca e é através da luta que nós vamos vencer essa postura.”

Mara concorda e aponta que não há interesse das emissoras de televisão em retratar o negro de forma a garantir sua libertação, já que a maioria das concessões é detida por brancos ricos. “Eles podem colocar algumas representações negras, mas isso é o máximo que irão conceder.” Ela defende a distribuição democrática de concessões de rádio e televisão para que o movimento negro possa também ter acesso aos meios de comunicação e expressar suas lutas históricas e seus pontos de vista.

Fonte: Observatório da Imprensa (Jamila Venturini)