300 milhões de empregos estão “expostos” à automação, diz gigante do mercado financeiro; mais de mil especialistas pedem pausa no desenvolvimento de IAs

Acabou a ideia de que apenas sindicatos de trabalhadores estão preocupados com os efeitos do avanço da Inteligência Artificial (IA). Um grupo de mil especialistas, entre eles nomes como o empresário Elon Musk, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e o CEO da Stability AI, Emad Mostaque, divulgaram uma carta aberta pedindo uma pausa imediata no desenvolvimento de IAs como o ChatGPT e alertando para os riscos caso o desenvolvimento continue no ritmo atual. A carta é divulgada poucos dias após um estudo apresentado pelo Goldman Sachs apontar que 300 milhões de empregos estão “expostos” à automação. O estudo ainda destaca o Judiciário como um dos principais campos afetados.

Judiciário entre os setores mais afetados

O documento do Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, adverte que “se a IA generativa [como o ChatGPT e outros] cumprir suas capacidades prometidas, o mercado de trabalho poderá enfrentar perturbação significativa”. Por um lado, milhões de postos de trabalho ficam ameaçados de extinção; por outro, a produtividade deve aumentar.

A partir de dados sobre as tarefas ocupacionais nos Estados Unidos e na Europa, e projetando esses dados para outros países – levando em conta as diferenças das economias, inclusive – o estudo aponta que “cerca de dois terços dos empregos atuais estão expostos a algum grau de automação de IA, e essa IA generativa poderia substituir até um quarto de trabalho atual”. No caso dos Estados Unidos, o relatório identifica que essa exposição é especialmente alta em profissões administrativas (46%) e jurídicas (44%). Para a Europa, as estimativas são semelhantes. Globalmente, diz o Goldman Sachs, 18% do trabalho poderia ser automatizado por Inteligência Artificial. No Brasil, a projeção é de 25%. Assim, destaca o relatório, “extrapolar nossas estimativas globalmente sugere que a IA generativa poderia expor o equivalente a 300 milhões de empregos em tempo integral à automação”. Embora o Goldman Sachs explique que parte desses postos acabaria substituída por outros tipos de trabalho, isso não se daria de forma imediata, nem seria capaz de reincorporar trabalhadores com as mesmas valências dos postos anteriores.

Para o capital, mais produtividade; para os trabalhadores, menos postos

Enquanto muitos trabalhadores podem perder seus empregos, os donos do capital vislumbram mais ganhos. Conforme o relatório, eles poderão “economizar custos de mão de obra, aumentar a produtividade da mão de obra e aumentar o ritmo de crescimento econômico”. Todo esse processo vem em aceleração e pode se tornar cada vez mais rápido, já que o aumento do interesse no setor e das capacidades das IAs tem gerado mais e mais investimentos na área.

Conforme o Goldman Sachs, aliás, quanto mais automação, mais incremento na produtividade. Em simulações feitas sem considerar deslocamento de mão de obra (ou seja, sem o fechamento dos postos de trabalho atuais e a criação de novos postos qualitativamente diferentes), o aumento da produtividade é apenas a metade do que aparece nas simulações onde “uma parcela muito maior de trabalhadores é deslocada”.

Mesmo para os trabalhadores e trabalhadoras que não perderem seus empregos, o Goldman Sachs não aponta boas perspectivas. Isso porque não aparece no relatório qualquer referência, por exemplo, à liberação de tempo, redução de jornada ou outras formas de oferecer mais qualidade de vida à população, já que a produtividade deverá aumentar. Pelo contrário: “a maioria dos trabalhadores está empregada em ocupações parcialmente expostas à automação da IA e, após a adoção da IA, provavelmente aplicará pelo menos parte de sua capacidade liberada em atividades produtivas que aumentam a produção”. Ou seja, o aumento da produtividade se daria tanto com substituição de muitos postos de trabalho menos produtivos por poucos mais produtivos quanto com o aumento da exploração dos trabalhadores que permanecerem em seus postos.

“Pausem imediatamente por pelo menos seis meses”

Nessa quarta-feira, 29, pesquisadores, especialistas, empresários e executivos do setor de tecnologia divulgaram uma carta aberta intitulada “Pause Giant AI Experiments” (Pause os experimentos gigantes de IA). A carta é assinada por mais de mil pessoas e foi publicada pelo grupo sem fins lucrativos Future of Life Institute.

O texto diz que esses sistemas de Inteligência Artificial “podem representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade” e defende que “a IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidados e recursos proporcionais”. Para os signatários, esse planejamento cuidadoso não está ocorrendo, mas sim “uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar mentes digitais cada vez mais poderosas que ninguém – nem mesmo seus criadores – pode entender, prever ou controlar de forma confiável”. Entre as preocupações expostas na carta estão a disseminação de informações falsas por meio das IAs e também a automatização dos trabalhos. “Devemos arriscar perder o controle de nossa civilização?”, questiona o texto.

A carta trata de uma publicação da Open AI, criadora do ChatGPT, na qual a empresa diz que “em algum momento, pode ser importante obter uma revisão independente antes de começar a treinar sistemas futuros e para os esforços mais avançados concordar em limitar a taxa de crescimento da computação usada para criar novos modelos”. Conforme os signatários, “esse ponto é agora”.

Nesse contexto, pedem a todos os laboratórios de IA que parem imediatamente por pelo menos 6 meses o treinamento de sistemas de IA mais poderosos que o GPT-4, a versão mais atualizada do ChatGPT, e que, nessa pausa, desenvolvam e implementem em conjunto protocolos de segurança auditados externamente: “Essa pausa deve ser pública e verificável e incluir todos os principais atores. Se tal pausa não puder ser decretada rapidamente, os governos devem intervir”, defendem. Paralelamente, defende a carta, “os desenvolvedores de IA devem trabalhar com os formuladores de políticas para acelerar drasticamente o desenvolvimento de sistemas robustos de governança de IA”, incluindo autoridades reguladoras. E reivindica: “A pesquisa e o desenvolvimento de IA devem ser reorientados para tornar os sistemas avançados e poderosos de hoje mais precisos, seguros, interpretáveis, transparentes, robustos, alinhados, confiáveis e leais”.

O que é o ChatGPT e como ele escreve seus textos, segundo “ele mesmo”

O ChatGPT é, em suma, um robô criado pela Open AI, uma startup especializada em inteligência artificial. Há outras tecnologias como o ChatGPT, mas, por sua interface amigável, ganhou destaque nos últimos meses. Ele responde a perguntas diversas e produz textos de diferentes tipos sobre os assuntos solicitados pelos usuários. Questionado pelo Sintrajufe/RS sobre “como o ChatGPT escreve seus textos”, o robô explicou seu funcionamento básico: “Eu, o ChatGPT, escrevo meus textos usando uma tecnologia chamada deep learning. Sou treinado por meio de um processo de aprendizado por reforço, onde recebo feedback sobre minhas respostas e ajusto minha estratégia com base nesse feedback. Isso me permite responder de maneira eficaz a perguntas e gerar textos coerentes e naturalmente escritos. Além disso, tenho acesso a grandes quantidades de dados da Internet, incluindo artigos, páginas da web e conversas, o que me ajuda a responder perguntas de maneira informativa e precisa. Em resumo, escrevo meus textos usando uma combinação de aprendizado por reforço, acesso a dados e processamento de linguagem natural”.

Com informações do Sintrajufe/RS