Judiciário Federal do RS começa a greve com a maior adesão dos últimos anos no estado

A greve do Judiciário Federal, no RS, começou terça com uma forte demonstração da disposição de luta da categoria em busca da reposição salarial. Em Porto Alegre, desde a manhã, havia concentração de grevistas em frente aos prédios das justiças do Trabalho, Federal e Eleitoral, registrando a maior adesão em início de greve dos últimos anos no estado.
 
O interior também está forte na mobilização. Nesta terça-feira, 33 cidades informaram ao sindicato sua adesão ao movimento nesta semana: Alvorada, Bagé, Bento Gonçalves, Cachoeirinha, Canoas, Capão da Canoa, Carazinho, Caxias do Sul, Cruz Alta, Erechim, Esteio, Santa Cruz, Santa Maria, Montenegro, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Santiago, São Borja, São Leopoldo, Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar, Santo Ângelo, Sapucaia do Sul, Taquara, Taquari, Torres, Triunfo, Uruguaiana, Vacaria e Viamão.
 
A grande mobilização acontece em todo o país. O Rio Grande do Sul entra na greve acompanhando o Paraná, já parado desde o dia 25 de maio, e também começam a greve nesta semana Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Amapá, Tocantins e Santa Catarina. São 19 estados mobilizados, e São Paulo, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima/Acre têm assembleias marcadas para deliberar sobre a entrada em greve por tempo indeterminado.
 
Ato público mostra disposição de luta
 
Nas varas trabalhistas, local de saída para a realização do ato público, a animação era grande. Grupos de servidores e, principalmente, os ônibus que levaram ao local os colegas das justiças Federal e Eleitoral, eram recebidos com aplausos e apitaços. Antes de tomarem a rua, os servidores fizeram a tradicional caminhada no entorno dos prédios da 1ª instância da JT, chamando os demais a descer e participar.Das varas trabalhistas, os servidores tomaram a Av. Praia de Belas fechando totalmente uma das faixas de circulação. Com palavras de ordem e apitaço, foram em caminhada até o TRT, para a realização do ato público. O quadro de grande adesão no Rio Grande do Sul e no restante do país foi destacado nos informes iniciais da direção do Sintrajufe/RS, que ressaltou que essa é uma das maiores adesões registradas na categoria em um primeiro dia de greve, o que mostra que os servidores estão cansados de enrolação e dispostos a ir à luta pela garantia de reposição salarial.
 
Foi informado, também, que, nesta segunda-feira, 8, o presidente do TRF4, desembargador Tadaaqui Hirose, enviou ofício ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Presidência da República e ao Senado Federal em apoio à reivindicação salarial da categoria. Foi lembrado que, em reunião com o desembargador, em maio, a direção do Sintrajufe/RS solicitou que o TRF4 atuasse junto aos tribunais superiores, principalmente ao STF, na defesa do PLC 28/15, para que houvesse uma negociação favorável com o governo. O mesmo pedido foi feito a ele pela direção do Sinjuspar/PR em reunião na semana passada. Para a direção, os apoios das administrações são importantes, mas o fundamental é a mobilização da categoria. Foi lembrado também o envio da delegação composta por 20 colegas da categoria que estão em Brasília, nesta terça e quarta-feiras, fazendo contatos com senadores e pressionando pela aprovação do PLC 28/15.
 
As manifestações dos colegas durante o ato público foram unânimes: somente com greve a categoria vai conseguir a aprovação do PLC 28/15 e quebrar a resistência do governo Dilma Rousseff (PT), que, até o momento, não apresentou qualquer proposta de negociação sobre a questão orçamentária. O diretor do Sintrajufe/RS Ruy Almeida afirmou que é difícil encontrar uma categoria que, a exemplo do Judiciário Federal, esteja há nove anos sem reajuste salarial. Por isso, ressaltou, “o momento é de lutar”, lembrando que o grande problema para alcançar a reposição, neste momento, não é a aprovação no Senado, mas a falta de dotação orçamentária. “Por isso, é necessário fazer a greve; vamos lutar, até o final, para repor perdas que já chegam a 49,6%”, finalizou.
 
A colega da JT Ana Naiara Malavolta disse que, sempre que chamada, a categoria responde, e não será diferente nesta greve. Para ela, é preciso agora aumentar o movimento, parar o interior e os prédios administrativos dos tribunais, pois “enquanto as metas não forem atingidas pela greve, não haverá empenho da cúpula do Judiciário” e, sem pressão nos estados, “não somos ouvidos em Brasília”. O país vive uma situação de degradação da situação econômica, com desemprego, e o governo agrava ainda mais o quadro com uma política de alta da taxa de juros, que gerará mais recessão. Essa foi a avaliação do colega Marcelo Carlini, da JF, ressaltando que é este o cenário no qual a categoria está lutando por reajuste. Para ele, a saída é os servidores se organizarem, lutarem, construir e fazer crescer a greve, para aumentar a pressão sobre Dilma e Levy.
 
Ao pegar o microfone, o colega da JT Fabiano Dalmolin fez um desabafo: “estou no Judiciário há cinco anos e nunca deixei de fazer greve”. Na opinião dele, os colegas têm de se conscientizar de que o reajuste é para todos; então, todos têm de fazer a mobilização. Ele lembrou o ano passado, quando os magistrados ganharam reajuste e, para os servidores, sobrou “tapa nas costas e mais metas para cumprir; por isso, chega. Todos na greve”, convocou, sob os aplausos dos presentes. A categoria nunca esteve tão próxima da aprovação do projeto de reajuste, disse o diretor do Sintrajufe/RS Paulinho Oliveira, comparando o reajuste a um pênalti, muito difícil de cobrar. Para ele, “o que nos traz para a rua é a crença de que podemos; não é só dinheiro, mas a recuperação da nossa dignidade e a imposição do respeito à categoria”. Segundo o dirigente, para alcançar esses objetivos, o caminho é um só: fazer a greve crescer, com união e força.
 
“Reajuste, só com luta; se não nos valorizarmos, o Poder Judiciário não vai fazer isso”, afirmou o colega da JT Paulo Rosa. Ao falar que havia muito tempo não se via uma mobilização de tantos sindicatos em todo o país em torno da reposição salarial, ele ressaltou que os sindicatos só têm força com a categoria mobilizada e isso é responsabilidade de todos. Ao falar sobre a realização do ato público, o diretor do Sintrajufe/RS Fagner Azeredo destacou que os servidores não têm respeitado o direito de greve e que, por isso, precisam recorrer à greve. “Cada um de nós tem que fazer aumentar a greve”, afirmou, ressaltando que o apoio das administrações dos tribunais regionais é importante, mas que é fundamental o respeito por parte das administrações, sem ameaças ou repressão à greve.
 
O ato público foi encerrado com apitaço e com todos falando a palavra de ordem que resume o que motivo da greve: “PCS já!”.
 
Greve prossegue com assembleias de base na quarta e assembleia geral estadual na quinta-feira, 11
 
Não esqueça: é importante a participação, também, nas atividades da greve. Nesta quarta-feira, tem assembleia de base na JT (13h30min), no Anexo da JE (14h30min) e na primeira instância da JF (16h30min). Na quinta-feira, 11, tem assembleia geral estadual, às 14h, no auditório das varas trabalhistas.
 
Por Rosane Vargas, Sintrajufe/RS; fotos de Alexandre Haubrich e Rosane Vargas
 
Fonte: Sintrajufe