Com reinício das aulas, estudantes voltam às ruas no dia 16

A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) convocam grande manifestação em Brasília, dia 16 de agosto, exigindo a apuração dos casos de corrupção e a reforma no sistema político. O ato, em que são esperadas cerca de dez mil pessoas, será realizado em conjunto com a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) -fórum de entidades populares, do qual fazem parte, além das entidades estudantis, CUT, MST, Conam, Pastoral da Terra, entre outras. Nos próximos dias, o movimento estudantil divulgará um calendário de manifestações nas principais capitais do país.

Punir os corruptos e os corruptores

Os estudantes defendem, como saída para a crise, a apuração irrestrita das denúncias de corrupção, com a responsabilização de todos os culpados, além de uma efetiva reforma no sistema político, como forma de inibir a ação dos corruptos e também dos corruptores.
De acordo com o presidente da UNE, Gustavo Petta, os que cometeram crimes, independentemente do partido ou da posição que ocupam, devem ser responsabilizados e punidos exemplarmente. “Aguardamos, inclusive, a punição dos parlamentares e dos empresários do setor privado (financiadores ilegais) que tiverem seu envolvimento comprovado”, defende Petta.
As entidades estudantis ressaltam a necessidade de se apresentar alternativas à sociedade. “Vem daí a importância da reforma política, com financiamento público das campanhas e fidelidade partidária. Do contrário, e isso é nossa principal preocupação, prevalecerá a descrença e a aversão à vida política. E neste caso, todos sabemos, quem perde é a democracia brasileira”, avalia Petta.

“Fora Lula” não pautará protestos

O presidente da Ubes, Marcelo Gavião, lembra que os estudantes têm uma responsabilidade histórica em defesa da ética na política. “Foi assim no Fora Collor, quando tiramos um presidente corrupto do poder, e não será diferente agora. O que não seremos é tropa de choque daqueles que querem simplesmente desestabilizar o governo”, explica o dirigente estudantil.
No que diz respeito às especulações sobre a relação do presidente Lula com os escândalos, Gavião afirma que o movimento estudantil acompanha com atenção os desdobramentos das investigações, mas acredita ser precipitado qualquer tentativa de responsabilização do presidente.
“Vemos com naturalidade as tentativas de comparação do momento atual com o período que antecedeu a queda de Collor, mas até agora não há nada que comprove a participação do presidente Lula”, afirma o presidente da Ubes, entidade que teve papel fundamental no Fora Collor.

Agendas distintas

No mesmo sentido, Petta lembra que se trata agora de um governo que tem o respaldo de uma agenda política completamente distinta daquele. Em 1992, por exemplo, no caso da educação, estávamos às voltas com a possibilidade de privatização da universidade brasileira. Hoje, mesmo que com certas limitações, discutimos o fortalecimento e a democratização da educação pública por meio da reforma universitária”, lembra o presidente da UNE.
Petta acredita que dois fatores levaram o país a enfrentar essa crise: “primeiro, o atual sistema político brasileiro é extremamente corrompido. Se criou uma expectativa de que apenas com a troca dos principais dirigentes do país seria possível resolver esse problema. Mas o que ficou claro é que só se consegue resolver isso com uma mudança no sistema político e nós vamos defender isso. A outra questão é que faltou e falta uma nitidez de projeto do governo em relação ao Brasil. E nós temos apontado as contradições: de um lado, uma política progressista do ponto de vista da educação, das relações exteriores e da cultura, e do outro lado, uma política extremamente conservadora na economia. Isso fez com que muitas vezes as alianças em torno do governo não fossem alianças em torno de um Projeto claro e nítido e sim em torno de vitórias pragmáticas no Congresso Nacional ou em torno de questões menores, que trouxe como conseqüências essas questões de corrupções que estão sendo desvendadas e vindo à público através das investigações”.
Gustavo acredita ainda que “a receita é reformar o sistema político para enfrentar a questão na raiz e ter coragem e altivez para se reaproximar do projeto original de 2002, atendendo as expectativas de reforma agrária, de salário mínimo, de reforma universitária, do Fundeb, entre outras questões”.

PSTU e PSOL na contramão

Na contramão da maioria dos movimentos sociais, agremiações de pouca expressão como o PSTU e o PSOL mobilizam sua parca militância para “colocar lenha na fogueira” da crise e servir de massa de manobra dos grupos de direita interessados em golpear o mandato do presidente Lula.
Neste sentido, o Conlutas, pretenso braço sindical do PSTU, está convocando para o dia 17 de agosto um ato em Brasília “contra a corrupção, as reformas e a política econômica do governo Lula”. A manifestação deve contar também com a adesão do PSOL e pretende mobilizar sobretudo funcionários públicos federais em greve. A expectativa é reunir quatro mil manifestantes.
Ontem, em Porto Alegre, pouco menos de 50 jovens militantes destes partidos protagonizaram um pequeno ensaio do que pretendem fazer em Brasília. Portando cartazes ofensivos ao presidente Lula e gritando palavras de ordem com o mesmo tom agressivo, eles se concentraram em frente ao hotel onde a comitiva do presidente Lula estava hospedada.
Os manifestantes jogaram ovos e pedaços de paus nos carros da comitiva que estavam estacionados na rua e desafiaram os policiais que faziam a segurança. Com uma rápida ação, a Brigada Militar tomou conta da situação, houve confronto e três pessoas foram presas. O presidente Lula, que saiu do hotel logo depois, não chegou a ver os manifestantes.

Fonte: Diário Vermelho