Presidente da Anamatra diz que programa do Jô deve explicação a juiz

Por Imprensa

O presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Grijalbo Fernandes Coutinho, afirmou que a produção do Programa do Jô, da Rede Globo de Televisão, deve uma explicação ao juiz do trabalho Jorge Vieira, da vara trabalhista do município de Paraoapebas (PA). O magistrado, o primeiro a condenar um fazendeiro pela prática de trabalho escravo, foi convidado para gravar uma participação no Programa do Jô, exibido na última quarta-feira (27/10).

Quando o juiz já estava em São Paulo, se preparando para dirigir-se à sede da TV Globo, recebeu um telefonema da produção do programa informando-o que ele não participaria mais da gravação. Ele participaria junto com o Frei Xavier Plassat, que também atua na luta contra o trabalho escravo, na CPT (Comissão Pastoral da Terra).

A produção do Jô disse a Vieira que havia recebido mensagens de entidades ligadas aos ruralistas solicitando que o programa não fizesse a entrevista com o juiz. “O que nos foi explicado foi que a classe ruralista mandou um monte de e-mails, mensagens, ofícios e cartas para a produção dizendo que queriam ter uma espécie de direito de resposta. Como se fosse possível dar direito de resposta em entrevista. Direito de resposta você dá se fosse um editorial, aí sim você dá direito de resposta, mas não há direito de resposta para entrevista”, contou Vieira ainda em são Paulo.

Na última quinta-feira (28/10), em entrevista ao programa “Revista Brasil”, da Rádio Nacional, Grijalbo Coutinho condenou a atitude do programa do Jô e exigiu um pedido de desculpas formal da produção à Vieira.

“Foi no mínimo uma descortesia. Convidar alguém para sair da sua cidade para gravar um programa e, de última hora, simplesmente falar que ‘olha, não nos interessa mais a sua entrevista’. Eu acho que, no mínimo, a produção do programa deve uma explicação ao juiz do trabalho, Jorge Vieira. Foi uma descortesia e isso atenta contra o sagrado direito de manifestação e expressão. Não posso entender com uma mera falha. O programa do Jô acabou cedendo a uma pressão ilegítima e injustificável de alguns fazendeiros”, disse Coutinho.

Ele lembrou ainda que Vieira tem se notabilizado por suas decisões, muitas vezes duras, contra fazendeiros que praticam trabalho escravo, “mas sempre para observar o cumprimento da Lei”. Coutinho disse também que prefere não acreditar que houve censura ao juiz por parte do programa. “É lamentável. Se for censura, aí sim que nós teremos que reprimir com toda a força porque não se tolera mais censura em um país que se diz democrático”.

Fonte: Anamatra