Jornalista vê dificuldades de mudanças no governo Lula

Por Marcela Cornelli

Leia abaixo notícias do V CONGREJUFE:

O jornalista Raimundo Pereira Rodrigues participou na tarde de quarta-feira (29/4) do painel de Conjuntura do 5º Congrejufe, junto com o professor Valério Arcary. Jornalista desde 1965, foi editor de política da revista Veja no período de 68 a 70, e na mesma época atuou na revista Realidade. Ainda durante a ditadura militar, no período de 72 a 75, trabalhou como editor do jornal Opinião que, de acordo com a sua avaliação, foi o grande jornal político de esquerda nos anos de chumbo. A partir de uma cisão da equipe do Opinião, foi fundado o jornal o Movimento, que durante um tempo foi referência para a esquerda militante do país. O jornal durou de 75 a 81.

Atualmente, Raimundo Pereira é editor da revista Reportagem, do grupo Oficina da Informação. Confira a rápida entrevista concedida à assessoria de comunicação da FENAJUFE.

Para falar sobre conjuntura nacional, qual a sua avaliação do governo Lula?

Raimundo Pereira: Para mim o principal ponto que caracteriza a conjuntura nacional é o grande enfraquecimento do governo Lula, que leva avaliação de que dificilmente ele irá cumprir as promessas sobre as quais ele foi eleito, de promover uma grande transformação no país. Isso se deve a um movimento no PT que não é recente, é um movimento que já tem pelo menos cinco anos. A direção do PT acelerou as mudanças no partido no sentido de conquistar o poder político de forma tradicional, conservadora, sem enfrentar o problema da necessidade de mudança para se caracterizar como um governo de transformações. As reformas propostas e implementadas até agora são reformas que foram apresentadas como instrumentos de mudanças, mas eu sou desses que acham que são contra reformas. São mudanças de caráter conservador, que foram vendidas para opinião pública com a idéia de que nós precisamos arrumar recursos para atender os mais pobres, os que têm fome e etc. Mas no fundo, a estratégia geral foi de manter intocados todos os acordos e contratos feitos com o grande capital financeiro, então no fundo se trata de você pegar pequenas migalhas para atender a esses compromissos que são gigantescos que estão amarrando o país. Então quando se analisa com detalhes essas reformas elas não apontam nenhuma solução. A reforma da Previdência, por exemplo, o governo Lula embarcou na canoa de que o povo é insatisfeito com os serviços públicos. O grande rombo da Previdência tem haver com outras questões e não com o funcionalismo público. O problema principal é que o país não cresce, então os trabalhadores não contribuem porque o emprego formal é cada vez menor.

Alguns setores consideram que é possível ter alguma transformação nos rumos do governo a partir de uma forte pressão da sociedade e do movimento social organizado. Na sua avaliação, isso é possível ou não há margem para uma disputa?

Rimundo Pereira: O núcleo mais importante do governo, formado basicamente pelo PT e pelo PCdoB, está firme nessa política que eu falei há pouco. O Palocci afirma que vai respeitar todos os contratos, mas aparentemente voltou de Washington com algumas migalhas, dizendo que vai tirar as estatais do gasto da despesa do cálculo do superávit. Então eu acho que esse governo, com uma grande maioria, deve manter a política que vem adotando. O governo se enfraquece porque ele também pode não ser um governo de confiança do capital estrangeiro. Os grandes capitais ficam cobrando sucessivas concessões. Os dados dos primeiros cem dias desse ano mostram que foi gasto em torno de 0,1% do que deveria que estava liberado para as diversas áreas. Essa paralisia mostra que o governo pode não agradar nenhum dos lados e por isso pode ficar um governo fraco e o lado que o pressiona e ele atende mais vai obtendo mais concessões. Ele vai ficar sem capacidade de reverter essa grande insatisfação e situação do país vai ficando cada vez mais deteriorada.

Fonte: FENAJUFE