Bloco de esquerda propõe saída concreta para a crise na Bolívia

Por Marcela Cornelli

A cabeça de bo alimentará os “bloqueadores” de San Julián
“Goni (o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada) deve renunciar, Carlos Mesa (o vice) deve assumir a presidência constitucional.” Com esta fórmula concreta, um bloco de partidos de esquerda bolivianos, com raízes reais nas massas populares sublevadas, apresentou na terça-feira uma alternativa imediata e viável para a crise de poder. A fórmula inclui a formação de um governo provisório e a convocação de uma Assembléia Constituinte.

Entre as assinaturas do comunicado conjunto, figura em primeiro lugar o Movimiento ao Socialismo (MAS), a mais forte das siglas oposicionistas, encabeçada por Evo Morales. Assinam também o Movimento Sem Medo, o Partido Comunista da Bolívia, Pátria Socialista Multinacional, Partido Revolucionário do Povo e Partido

Veja a íntegra do documeento:

“Goni deve renunciar”

“Gonzalo Sánchez de Lozada perdeu a escassa legitimidade com que chegou ao Palácio Quemado. A democracia não é ele e nunca o foi. O único apoio que tem é o da Embaixada ianque e de certos comandos das Forças Armadas e da Polícia.

O povo quer uma democracia em que participe e decida. É falso, portanto, que a maioria dos bolivianos seja sediciosa, como afirma Gonzalo Sánchez de Lozada, a quem o povo diz em todos os tons que renuncie.

Diz-lhe que se vá porque o povo não esquecerá os mortos e feridos. Tampouco haverá perdão para ele pois o sangue foi derramado porque o actual governo defende os interesses das empresas transnacionais e não os do povo e do país.

A democracia está ameaçada pela ação do governo do MNR/MIR/NFR. Portanto, a ameaça à democracia não parte do povo insurreto. O povo conquistou seu espaço com múltiplas ações, com uma crescente quota de sangue e com sacrifícios que continuam a se acumular.

Se ainda resta alguma generosidade ao ainda presidente da República, ele deve renunciar agora. Só assim pode-se deter o massacre.

Em defesa da democracia e dos interesses nacionais e populares, e para evitar uma maior efusão de sangue, perante a renúncia de Sánchez de Lozada deve assumir a presidência constitucional do país o vice-presidente Carlos de Mesa, o qual deve, o quanto antes, constituir um governo provisório que se comprometa a recuperar os hidrocarbonetos para os bolivianos, a tomar medidas destinadas à recuperação do aparelho produtivo e à convocatória de uma Assembleia Constituinte.”

Sublevação, conteúdo e forma
A fórmula proposta no comunicado conjunto aponta uma saída imediata para a crise que ensanguenta o país, com perto de 70 mortos pelas forças repressivas, o que até o momento só fez redobrar o impulso do povo insurreto. O vice-presidente, Carlos D. Mesa, um historiador e jornalista, distanciou-se de Sánchez de Lozada quando a crise se agravou, dizendo que deixava o Poder Executivo, mas não o cargo de vice, e que se disporia a assumir a presidência.

Entre os seus objetivos, a rebelião elegeu como centro a mudança de governo e como palavra-de-ordem central a exigência do presidente Sánchez de Lozada – também chamado depreciativamente “Goni”, ou ainda “El Gringo”, por falar o espanhol com sotaque americano, devido a sua longa permanência nos Estados Unidos.

Em seu formato, o movimento – que alguns apresentam como a maior sublevação civil da história contemporânea da América do Sul – apresenta uma imensa variedade, como costuma ocorrer em jornadas desta amplitude. Vai convergindo, porém, para uma gigantesca marcha sobre La Paz, formada por legiões de mineiros e camponeses, estudantes e cocaleros, desempregados e mulheres, famintos – um povo inteiro que parece decidido a tomar o destino da Bolívia em suas mãos. Depois dos massacres de El Alto, no fim de semana, os esforços do Exército e da Polícia se concentram em deter essa maré humana, mesmo à custa de mais derramamento de sangue. Até ontem, porém, eram esforços em vão.

Fonte: Site Diário Vermelho