15 mil marcham contra a Alca, os TLCs e os EUA, em Quito

Uma marcha do Fórum Social América é, para quem nunca participou de algo parecido, em primeiro lugar uma festa para os olhos. Por todos os lados, de todas as formas, brilhavam as cores do arco-íris nas roupas e bandeiras de animados indígenas bolivianos, ferozes agricultores peruanos, e, é claro, alegres gays de todas as partes. O que, para os antigos incas, simboliza a paz, para o movimento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) celebra a diversidade. Diversidade em harmonia, uma imagem bonita que serpenteou por mais de duas horas pelas ruas de Quito.

Harmônico também pareciam as palavras de ordem dos manifestantes, variações sobre um mesmo tema: a rejeição de todos os tipos de ingerência dos EUA na América Latina, principalmente a ofensiva de criação dos tratados de livre-comércio (TLCs, incluindo-se a Alca – Área de Livre-comércio das Américas).

Desta vez não se falou em Iraque ou Palestina, como em todos os protestos antiglobalização dos Fóruns Sociais. Desta vez, índias do equador, pequenas em tamanho, seus filhos – todas pareciam ter filhos – amarrados às costas, exigiam a saída das transnacionais americanas de semente e o seu direito ao milho. As mulheres cobravam respeito e denunciavam a mercantilização do corpo feminino. Os colombianos protestavam contra o presidente Uribe e o Plano Colômbia. E todos repetiram, outra e outra e outra vez: “Y no queremos y no nos da la gana ser una colonia norte-americana. Sí queremos y si nos da la gana, América Latina libre y soberana”.

Mais tarde
Caia à noite, o cansaço estava estampado nos rostos sorridentes de todos que, com o perdão da expressão, haviam desopilado o fígado contra o imperialismo norte-americano. Grupinhos permaneciam aqui e ali, conversando, quando começou a correria. Enorme, branca e fria, a embaixada dos EUA, há apenas 50 metros do parque de onde saiu e onde terminou a passeata, começou a cuspir gás de pimenta. Ninguém soube explicar, não houve, naquele momento, nenhuma provocação que justificasse a agressividade policial da segurança da embaixada.

Caído no chão, um garoto estrebuchava, tentava levantar, e caia novamente. Logo a frente, duas meninas. Um velho índio. E os que tentavam ajudar, carregar os caídos, choravam de dor nos olhos, nas narinas e no coração. Ninguém se feriu gravemente. Mas o recado de ambos os lados, o imperialismo e a resistência, foi dado: não há trégua até que um dos dois caia.
(Fonte: Diário Vermelho)