Porque pelear era lindo

A pátria a perder de vista, andei peleando outra vez…
Sem soldo no fim do mês porque pelear era lindo,
As espadas retinindo, chapéu batido na copa…”
Estes versos de Jayme Caetano Braum, payador gaúcho, retratam o perfil dos tauras que fizeram a Revolução Farroupilha comemorada no 20 de setembro. Quando cheguei ao Tribunal nesta quarta-feira, próximo do meio dia e vi as bandeiras a meio-pau, não tive mais dúvidas. Era mesmo verdade, Marcos Pina não estava mais conosco. Enquanto trilhava o caminho desde minha casa, pensando na morte dele, me veio à mente a lembrança, dos que peleavam porque pelear era lindo. Este é o primeiro requisito de quem luta. O segundo é acreditar na causa em disputa. O Presidente às vezes até exagerava no pelear pelas suas causas. Talvez porque pelear era lindo para um italiano de sangue quente. Mas o melhor de tudo é que as causas eram as melhores. A valorização efetiva da primeira instância, a democratização das decisões chamando os servidores para discutir, como no caso do novo prédio do foro de Florianópolis, a distribuição global mais eqüânime das FC´s, a redução da terceirização, a luta contra a burocracia, mãe da mesmice e da acomodação, são causas impecáveis que Pina defendia com todas as unhas. Muito melhor pelear por elas do que deixar tudo como está. A sua maior contribuição foi um choque de gestão na máquina do tribunal que já vinha sendo montada nos últimos anos. Um bom choque de gestão, não aquele dos economistas de plantão mas um choque com cheiro de democracia. A democracia que pela primeira vez abre as portas do tribunal para o pensamento da sociedade como está em curso no Fórum de Direito Material e Processual do Trabalho que já recebeu mais de 400 teses dos mais variados setores envolvidos com a Justiça do Trabalho, na linha que sempre defendeu de pavimentar o caminho entre a academia o Judiciário e o mundo real. Nos poucos meses que presidiu o TRT catarinense, mostrou que o judiciário pode ser mediador numa greve séria como a dos motoristas e cobradores, sem ser autoritário e construir um acordo justo. Por estas práticas, pelo empunhar destas bandeiras, e pelo gosto pela peleia, tenho certeza que o payador missioneiro se orgulhará de ver Marcos Pina homenageado por seus versos.

Caio Teixeira