NOTA DO MST em relação à prisão de Lavratti

O MST é um movimento que luta, há décadas, por um modelo de
desenvolvimento agrícola que valoriza o meio ambiente, o respeito à vida
e à dignidade de homens e mulheres que trabalham no campo. Entre nossos
principais posicionamentos estão a defesa da agricultura familiar e
camponesa, a luta contra os latifúndios improdutivos e a defesa de
diversas populações contra a retirada sistemática, e muitas vezes
violenta, de trabalhadores e trabalhadoras de suas terras e de suas
casas, em nome de um modelo que somente privilegia grandes empresas e
latifundiários.
A prisão de homens e mulheres ligados ao MST, quando realizavam uma
reunião com integrantes da comunidade, em Imbituba, demonstra uma faceta
controversa do Estado, do poder policial e de uma parcela do judiciário.
Estas pessoas foram detidas mesmo sem cometer qualquer crime, apenas
pelo fato de trabalharem junto às famílias no esclarecimento de seus
direitos enquanto cidadãos e cidadãs.
Como ocorreu em dezenas de ocasiões com trabalhadores e trabalhadoras
rurais, uma comunidade inteira está sendo despejada em Imbituba. A
acusação de “formação de quadrilha”, um verdadeiro descalabro, não
encontra qualquer respaldo, uma vez que é pública e notória a
preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem
sistematicamente sendo obrigadas a abandonar a zona rural em função da
falta de apoio à agricultura familiar. Em outra frente, o agronegócio
recebe generosa ajuda governamental.
A reunião na qual estava Altair Lavratti justamente discutia esta
situação em uma reunião pública e levava a solidariedade do movimento às
famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem
parte do cotidiano do MST.
O MST, como já ocorreu com o Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB), é vítima de uma ação orquestrada que utiliza como artifício a
prisão “preventiva” por “suspeita de invasão”. Para a polícia e para o
poder público, pelo que se entende a partir desta ação, reuniões que
envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e,
sendo assim, são passíveis de interrupção e prisão.
Enquanto o mundo condena a retirada de garantias individuais
“preventivamente”, o Poder Público de Santa Catarina iguala-se aos
países mais atrasados e trata como criminosas pessoas que apenas
defendem um modelo diferente de desenvolvimento, que valoriza o respeito
à vida, a dignidade, a liberdade e maior igualdade. O tipo de ação
orquestrada em Imbituba é muito semelhante à adotada pelos Estados
Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou
com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também
aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que
envolva seres humanos. Conversar e organizar, por uma vida melhor, passa
a ser coisa de “bandido”.
Para o MST, as prisões são descabidas e só refletem a forma autoritária
como o governo de Santa Catarina conduz a relação com os movimentos
sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de debater e
propor um modelo de desenvolvimento que contrapõe a visão do atual governo.
Os 140 assentamentos da reforma agrária de Santa Catarina, TODOS FRUTOS
DA LUTA DO MST, respondem por mais de 60 cooperativas, agroindústrias
familiares e empreendimentos de autogestão. Periodicamente o Movimento
presta cntas à sociedade, mostrando suas diversas iniciativas produtivas
e como o modelo de desenvolvimento defendido pelo MST é viável, aumenta
a qualidade de vida e a inclusão social de homens e mulheres, do campo e
da cidade. |
Defendemos a reforma agrária por entender que ela representa vida digna
no meio rural e mais benefícios a todas pessoas. Estamos mostrando que
esse modelo é viável e que ajuda a sociedade.
A diversificação da produção nos assentamentos é a demonstração, na
prática, dos números apresentados pelo Censo do IBGE, que mapeou a
agricultura brasileira nesta segunda metade da década. Conforme o
estudo, a agricultura familiar e camponesa produz mais e melhor, em uma
área muito menor do que o agronegócio.
O leite Terra Viva, produzido por cooperativas do MST, é um dos
principais exemplos do sucesso da reforma agrária. Diariamente ele chega
à mesa de mais de 1,5 milhão de pessoas na região Sul e em São Paulo.
Tudo isso assusta aqueles que querem a continuidade de um modelo que
privilegia poucos, em detrimento da vida de muitos.

CONTATO: (48) 3028-1608 / 9901-1154 / 8465-6138