Movimentos sociais convidam a sociedade para lutar contra transgênicos

Por Marcela Cornelli

Em nota divulgada em 23 de setembro, em Brasília, movimentos sociais exigem do governo uma negociação mais transparente e que a sociedade se una aos movimentos sociais pela não aprovação da comercialização de produtos transgênicos.

Confira abaixo a íntegra da nota:

Manifesto ao governo Lula e à sociedade brasileira

Os movimentos sociais do campo e da cidade, unidos em torno da construção da Soberania e da Segurança Alimentar do povo brasileiro, vem a público repudiar a forma como o governo brasileiro vem conduzindo a discussão sobre os transgênicos em nosso país. Entendemos que até agora o processo de discussão sobre o tema tem sido antiético, antidemocrático e sem transparência, pois apenas os interesses das multinacionais e das forças conservadoras vem sendo considerados.

Acreditamos, ainda, que o governo tem o intuito de esconder da sociedade brasileira os perigos que os transgênicos causam para a saúde humana e para o meio ambiente, além dos prejuízos econômicos e sociais que serão impostos a todos os agricultores familiares do nosso país.

A luta pela construção de um modelo agrícola no qual a preservação da biodiversidade, juntamente com a produção de alimentos sadios para o consumo do povo brasileiro, sempre esteve presente em nosso trabalho. Agora, uma provável autorização para o plantio e comercialização de produtos geneticamente modificados irá destruir tudo aquilo que até então, com muito esforço e luta, conseguimos desenvolver. Além disso, queremos alertar a sociedade brasileira sobre os perigos que podem ocorrer com uma possível liberação dos transgênicos em nosso país: será que cada consumidor e consumidora do Brasil têm claro o que, de fato, representa para a saúde humana o consumo de produtos geneticamente modificados? Será que o governo, as multinacionais e as forças conservadoras se responsabilizarão pelos danos causados à saúde de nosso povo? Em relação aos males que estes produtos causam à biodiversidade existente nas pequenas propriedades agrícolas, até agora o governo não nos disse quem os repara-rá, se é que isso é possível.

Neste sentido, queremos manifestar veementemente nossa posição contrária à uma possível liberação do plantio e comercialização de transgênicos em nosso país. Exigimos que o compromisso assumido pelo atual governo de estar ao lado daqueles que sempre sofreram e lutaram duramente pela sobrevivência numa sociedade extremamente desigual, seja imediatamente cumprido. O povo brasileiro não pode se tornar refém de uma elite rural, especialmente do estado do Rio Grande do Sul, que quer impor de maneira totalitária a produção de transgênicos no país. Não aceitamos que os interesses da multinacional Monsanto e das forças reacionárias de nosso país se sobreponham às legítimas aspirações da maioria da população brasileira.

Conclamamos, portanto, o conjunto da sociedade para juntar-se a nós nesta luta, exigindo do nosso governo, que se diz popular e democrático, um amplo debate sobre o tema. Que a Constituição e as leis de nosso país sejam mais fortes que os interesses privados!

Brasília, 23 de setembro de 2003

MST, Contag, CPT, MAB, MPA, Fetraf, Sinpaf, Idec, CUT nacional, Inesc, ASPTA, ANMTR, Rede Eco-Vida, PJR, FEAB, Campanha Por um Brasil Livre de Transgênico, ASA-PB.

Fonte: Site MST