Jovens têm renda inferior a US$ 2 diários na América Latina

Os jovens latino-americanos vivem uma situação crítica em relação ao desemprego. Estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que, apesar do crescimento econômico na região, houve um aumento do desemprego entre jovens nos últimos dez anos. No Brasil, entre 1995 e 2003 o desemprego entre jovens aumentou de 11,4% dessa parcela da população para mais de 19%, bem acima da média mundial.
A OIT ainda alerta que, para um terço dos latino-americanos entre 15 e 24 anos e que trabalham, ter um emprego não significa sair da pobreza, já que continuam ganhando menos de US$ 2 por dia. Segundo a OIT, a crise entre a juventude que busca trabalho é mundial. De acordo com o informe, o desemprego entre jovens no mundo atinge uma taxa de 13,5%.
No total, são 85 milhões de desempregados, alimentando a situação de vulnerabilidade das economias e caos social.
Para a OIT, há ainda o risco de que esses jovens alimentem rede de tráfico de drogas ou do crime organizado. Em algumas regiões, poderiam até dar apoio a grupos terroristas.
Os números são 14,8% superiores ao volume de desempregados registrado em 1995, quando o mundo somava 74 milhões de jovens sem trabalho. A OIT destaca, porém, que essa situação é apenas a ponta de um iceberg: um terço do 1,1 bilhão de jovens no mundo é mal pago, está em busca de trabalho ou já desistiu completamente de encontrar um emprego.
Alarme sobre emprego abaixo da linha de pobreza
Segundo a OIT, cerca de 300 milhões deles ainda estão abaixo da linha da pobreza, mesmo trabalhando. O que o relatório mostra é que os jovens são atingidos de uma forma bem mais dura pelo desemprego que o restante da população. Apesar de comporem apenas 25% da população mundial, os jovens representam 44% dos desempregados. Para lidar com esse problema, 400 milhões de postos de trabalho terão de ser criados até 2015 no mundo.
Na América Latina, a OIT alerta que a taxa de jovens sem emprego em 2005 estava bem acima da média mundial e chegava a 16,6%, contra 14% há dez anos. O número de pessoas sem trabalho entre 15 e 24 anos passou de 7,7 milhões de pessoas em 1995 para 9,5 milhões no ano passado. No caso do Brasil, o País passou de uma situação em que estava abaixo da média mundial e regional para uma taxa acima da média, em apenas oito anos.
O que preocupa a OIT é que, mesmo para muitos que conseguem trabalho, a situação também é de extrema pobreza: 16,7 milhões dos jovens latino-americanos não conseguem empregos que lhes paguem mais de US$ 2 por dia e 6,3 milhões ganham menos de US$ 1 por dia. A situação nas jovens latino-americanas é ainda pior: 19% delas não conseguem trabalho.
Outro dado que deixou os técnicos da entidade alarmados foi o fato de que 21% dos jovens da região nem trabalham nem estudam. “Condenados ao desemprego ou a condições precárias, os jovens se encontram em um circulo vicioso de pobreza que afeta a auto- estima, cria pessoas desmotivadas e limitas as esperanças sobre o futuro”, afirmou o diretor da OIT, Juan Somavia.
Para ele, “a juventude de agora enfrenta um crescente déficit de oportunidade e altos níveis de incerteza social e econômica”. Na região, alguns dos problemas enfrentados pelos jovens são a falta de um melhor sistema de educação, mais investimentos, a falta de crescimento do setor formal e melhor qualidade de trabalho.
Apesar dos problemas, a América Latina não é a região que apresenta a pior taxa de desemprego. No Oriente Médio, 25,7% dos jovens estão sem trabalho, contra 19,9% no Leste Europeu e 18,1% na África. Os países ricos foram os únicos que apresentaram taxas melhores em 2005 (13,1%) que o índice de 1995. Mas, segundo a OIT, a melhoria da situação nos últimos anos ocorreu não tanto graças à criação de postos de trabalho, mas sim por causa da redução no número de jovens em vários países.

Custos

Alertando os países a criarem programas para facilitar a entrada de jovens no mercado de trabalho, a OIT destaca que a situação de desemprego dessa geração terá um impacto não apenas para cada família, mas para as próprias economias e para a estabilidade das sociedades. Até agora, as taxas de crescimento em várias regiões não conseguem se traduzir em criação de postos de trabalho e, quando isso ocorre, muitas vezes são empregos mal pagos, sem carteira assinada ou que obriga o jovem a passar longas horas no trabalho.
Uma das formas de lidar com o problema poderia vir do setor rural. Segundo a OIT, 40% dos empregos no mundo ainda estão no campo ou em áreas ligadas à produção agrícola. A criação de empregos nessas áreas, portanto, poderia reduzir o número de jovens sem atividade e ainda evitar que migrem para as cidades, já superlotadas e sem possibilidade de oferecer soluções a essa geração de jovens.

Fonte: Tribuna da Imprensa