Artigo – Entre o relato e a decisão: a assimetria que cala

O Sintrajusc, que participa de comissões e comitês nas três justiças, publica abaixo o artigo do servidor do TRT-SC Eduardo Gheller Mörschbächer. O artigo expressa insatisfações crescentes dos servidores no âmbito do Poder Judiciário da União (PJU) em todas as suas instâncias.

Entre o relato e a decisão: a assimetria que cala

Eduardo Gheller Mörschbächer, servidor do TRT-SC

Há uma assimetria que revela uma contradição frequente nas instituições: a vivência da pessoa com deficiência é valorizada como exemplo ou inspiração, mas não reconhecida como conhecimento técnico ou estratégico. Dá-se espaço para o relato, mas não para a participação efetiva nas decisões. As pautas são acolhidas, mas o poder de influenciar os rumos institucionais permanece restrito.

Esse padrão se manifesta de forma recorrente na composição de comitês, subcomitês e grupos de trabalho voltados à acessibilidade e à inclusão. Pessoas com deficiência são convidadas a participar, mas muitas vezes sem função deliberativa clara, sem acesso às instâncias de decisão e sem respaldo estrutural para transformar sua experiência em diretriz. Sua presença tende a cumprir um papel simbólico, não raro restrito à escuta e à validação de decisões já encaminhadas.

Mesmo quando a governança institucional se beneficia do saber situado das pessoas com deficiência, é raro que esse saber seja reconhecido como fundamento estratégico. A participação, em vez de empoderar, pode se limitar à formalidade de uma cadeira preenchida, sem os instrumentos necessários para o exercício real de protagonismo.

Garantir a participação plena exige mais do que representatividade: requer abertura ao compartilhamento de poder, reconhecimento de competências e estruturação de espaços que valorizem não apenas a presença, mas a incidência. Do contrário, perpetua-se a assimetria entre a narrativa que emociona e a decisão que transforma — e a inclusão corre o risco de seguir sendo apenas um discurso bem-intencionado.